Um vento pesado sobre seu corpo a levou de volta ao livro,
empoeirado, sujo, e ao mesmo tempo confuso.
As páginas as trouxeram ao mundo distante e a fizeram pairar sobre uma
história que não se recordava, pois o tempo, as mudanças do corpo, da mente, da
alma, a fizeram apagar. De repente, ela se viu diante de do seu passado,
presente e futuro, todos juntos e embaralhados.
Quem traça os nossos destinos é Ele e esse dia, o dia em que
Maria iria retomar este livro estava previsto, estava escrito, tinha que
acontecer. Livros foram feitos para ter fim ou não, mas páginas em branco não
foram feitas para serem brancas. Elas pedem sentimento, eles pedem o peso de
uma mão e um lápis sobre elas. Tirar a
poeira e voltar a escrever no livro foi a decisão de Maria. Nem todos os livros
tem um fim, mas o dela, ela mesmo decidiu que irá ter. Ela fez a sua escolha,
assim como todos os dias nós fazemos.
A cada despertar existe uma nova escolha e ao longo do dia,
do mês, dos anos são várias que cada um faz. Ter medo significa parar no tempo,
ter medo significa não seguir em frente, ter medo é viver a dúvida constante do
que pode ser. Amanhã é um dia que eu, você e Maria não vivemos ainda. Ela ainda
não terminou seu livro, mas perdeu o medo e tirou o livro da prateleira e
resolveu prossegui-lo. Maria tem certeza de que amanhã serão novas escolhas,
mas o livro ela irá carregar debaixo do braço até que termine as suas páginas
em branco.
Quantas Marias, Joanas, Anas, Beatrizes estão agora
resgatando livros antigos da prateleira...